Qual o Valor da Natureza?
QUAL O VALOR DA NATUREZA?
A semente cai, o solo no cio a acolhe, brota uma nova vida.
Quanto vale apreciar e usufruir dessa bela paisagem?
Quanto vale a água, os solos e o ar límpidos? Qual o valor da natureza? O capital oriundo da natureza, denominado capital natural, é composto por recursos, sistemas vivos e serviços do ecossistema. A apropriação dos recursos naturais é uma longa história de atuação humana, as ações antrópicas, em prol da depredação, do desperdício e da depleção do capital natural. Nos últimos cinquenta anos, o mundo perdeu um quarto da camada superior do solo e um terço da cobertura florestal, sem ao menos ter estudado toda a diversidade de vida desses sistemas.
A valoração dos recursos naturais encontra resistências em poderosos interesses, e sua exploração é tão intensa que o ser humano parece viver em um ecossistema com recursos ilimitados. Teorias econômicas que obtiveram êxito tempos atrás, já não funcionam num mundo globalizado, densamente povoado e ávido por consumo.
A economia jamais atribuiu um preço ao trabalho da natureza, mas os elementos naturais prestam o que se convencionou chamar de serviços ambientais. O termo não é novidade entre os ambientalistas, mas aparece com frequência cada vez maior fora do mundo verde. Há um projeto em desenvolvimento pelas Nações Unidas, que tem como meta destrinchar o valor econômico dos ecossistemas e da biodiversidade do planeta. Está cada vez mais claro que água limpa, ar despoluído, oceanos produtivos e solos férteis custam, sim, muito dinheiro.
Robert Costanza, economista norte-americano foi o primeiro a atribuir preços à natureza. Em 1997, ele estimou que a biodiversidade do mundo valia US$ 45 trilhões a valores atuais, ou cerca de 75 % de todo o PIB mundial. Esse valor está subestimado, por não considerar todos o biomas do planeta. Mas foi o primeiro passo científico para ter-se a real dimensão de valores e o início de um processo de cobrança pelos serviços ambientais.
O desastroso vazamento de óleo no golfo do México em 2010, dentre muitos desastres similares, tornou o assunto recorrente. Esse acidente mostrou que a economia não dimensiona o valor dos serviços ambientais. Cerca de 20 bilhões de dólares foi o valor do fundo que a British Petroleum – BP, declarou que irá criar para garantir o pagamento de indenizações às vítimas do vazamento. É uma elevada soma de dinheiro, considerando-se somente os prejuízos diretos dos pescadores e dos residentes nas encostas da região. Para muitos, porém, a quantia é desprezível se, na conta do desastre, a petrolífera tivesse de incluir os danos que os milhões de litros de óleo já provocam nos ecossistemas, impedindo que eles continuem entregando uma série de benefícios que influenciam toda a economia do entorno.
Os danos à fauna já foram documentados, mas os cientistas estão preocupados com outro tipo de dano, difícil de quantificar. O óleo pode, por exemplo, prejudicar os fitoplânctons, organismos microscópicos que são a base da cadeia alimentar marinha. Menos fitoplâncton significa menos peixes durante muitos e muitos anos. O petróleo também pode afetar milhares de quilômetros de diferentes tipos de vegetação costeira, como mangues e banhados, e a ciência já provou que eles são barreiras naturais contra furacões, um fenômeno frequente nessa região.
É verdade que a atribuição de valores aos benefícios da natureza não é uma tarefa simples. Mas, somente com uma lógica financeira e números reais é que o tema da sustentabilidade será inteiramente compreendido. Deve-se ter a consciência que muitos dos recursos naturais que garantem nossa sobrevivência são finitos. Ninguém é afeito a pagar muito por aquilo que sempre recebeu de graça e que julga existir em abundância. Como então transformar essa ideia em realidade? Um primeiro passo é definir valores comparáveis aos de produtos e serviços oferecidos pelo mercado como, por exemplo, o valor do tratamento da água potável, produto disponível para apenas 20 % da população mundial.
Há cerca de 30 anos, Nova York optou pela conservação da bacia que abastece a metrópole, ante gastar com tratamento químico. O governo paga aos fazendeiros de Catskill, um município a 200 quilômetros da metrópole, para garantir água limpa e fresca aos moradores de Nova York. O programa é voluntário e teve a adesão de 95% dos proprietários rurais. Como conseqüência, a cidade não tem estação de tratamento de água, somente de filtragem e desinfecção. Um dólar investido no projeto traz uma economia à prefeitura de sete dólares, em comparação com o tratamento convencional. A população paga menos e bebe, da torneira, uma das águas mais puras do mundo.
O maior patrimônio biológico e a maior biodiversidade do planeta estão no Brasil. A se considerar o valor do capital natural no seu PIB, a riqueza brasileira fica próximo dos EUA, o país mais rico do planeta. Como então explorar essa jóia rara? O Brasil tem aprovado e regulamentado leis de proteção e gestão de florestas públicas, inclusive que concede ao poder privado o direito de manejar e explorar produtos e serviços nas áreas, em regime de concessão, respeitados obviamente alguns limites e critérios. A plêiade legal deve certamente gerar de forma sustentável nessas áreas, que ocupam cerca de 25 % do território brasileiro. Uma forma inteligente de explorar as riquezas naturais de forma sustentável.
O Brasil ainda é uma superfície verde, saberá dar a relevância necessária ao valor real da natureza. A sensibilidade de nossa alma verde por certo enxergará a essência ambiental. Mais que isso, a força da onda verde por todo o planeta clama por mandatários que tenham preparo suficiente para prover a manutenção e a ampliação do capital natural, por meio de ferramentas de desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável. .O que deve ser globalizado atualmente é menos o capital, o mercado, a ciência e a tecnologia. E sim a veneração para com a natureza da qual somos parte, e a parte responsável.
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