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E um ano novo com muita PROSPERIDADE!

Se você quer um ano de prosperidade, cultive trigo.
Se você quer dez anos de prosperidade, cultive árvores.
Se você quer cem anos de prosperidade, cultive pessoas.

 

Provérbio chinês

 

Um novo ano se inicia e o genial corte anual do tempo enterra negatividades, lava a alma, renova energias e idéias e ativa sonhos, ao vislumbrar esperanças de uma nova vida. Faz também ecoar às expensas desejos de prosperidade. Esperança e prosperidade estão direta e etimologicamente associadas, já que uma palavra deriva da outra. O ser humano parece produzir prosperidade apenas em termos de dinheiro e crescimento econômico. Surge então a ameaça de se minar esperanças em nome do desenvolvimento a qualquer preço das economias de um país.

 

Mede-se a prosperidade de uma nação não somente pelo vetor econômico, mas, sobretudo, por indicadores de qualidade de vida e sustentabilidade ambiental, dentre os quais: universalização de acesso a alimentação, saneamento básico e educação; preservação de liberdades individuais; empregos dignos com tempo para o lazer; e conservação da biodiversidade. Portanto, ferramentas de mensuração como Produto Interno Bruto - PIB e Índice de Desenvolvimento Humano - IDH tendem a ser substituídas por indicadores mais abrangentes, orientados para medir o bem-estar econômico sustentável.

 

Não que frear o desenvolvimento financeiro seja a melhor alternativa para evitar a destruição do planeta, mas ironicamente a único fator capaz de reduzir minimamente o aumento das emissões de carbono nas últimas décadas foi a recessão econômica provocada pela crise financeira mundial de 2008. É um dilema: pode-se viver sem o crescimento econômico, que entulha e destrói o planeta ao mesmo tempo em que gera riqueza. Trata-se de uma difícil escolha, mas a vida é feita e construída por escolhas e a sociedade teima em postergar decisões difíceis, sob a crença obtusa de que a inteligência humana será hábil a fornecer tecnologia e eficiência suficientes para recuperar os estragos à natureza. Isso pode até ocorrer mas o tempo urge.

 

Um dos períodos de maior prosperidade e desenvolvimento da sociedade brasileira ocorreu entre 1980 e 2010, período que o PIB per capita do país teve um crescimento baixíssimo, chegando por vezes a freqüentar os últimos lugares dentre todos os países avaliados. Ou seja, o crescimento da riqueza nacional de uma nação está descolado do seu desenvolvimento social. Nesses trinta anos, o Brasil teve grandes conquistas coletivas: na década de 1980 a distensão política, o fim da ditadura militar e a redemocratização; na década de 1990 a estabilização da economia, após o Plano Real; e na década de 2000, a queda da desigualdade de renda. Fatos marcantes que, entre outros fatores, propiciaram enorme prosperidade aos brasileiros.

 

Por essa e outras, já há correntes de pensamento de um modelo de sociedade pelo decrescimento. O movimento já possui partidos políticos na França e Itália e criou uma plataforma política que inspira as pessoas a ver que menos é mais. Alegam que o crescimento econômico onera cada vez mais os ecossistemas terrestres, explora as camadas mais pobres e ameaça a segurança de futuras gerações, principalmente em locais que cresceram muito além de seu quinhão justo de planeta finito.

 

Entre os preceitos da sociedade do decrescimento, pode-se destacar: priorizar a proximidade das relações humanas; reduzir o lixo e o transporte poluente por meio de impostos verdes; incentivo a energias renováveis; geração de riqueza prioritariamente em pequenas empresas locais; e redução de jornada de trabalho. O decrescimento da economia não significa decadência ou retrocesso, mas um sistema comparado a uma dieta saudável e voluntária, em prol de melhor qualidade de vida, onde os indivíduos passam menos tempo trabalhando sob pressão para acumular mais e mais bens, e mais tempo dedicado ao convívio social, em ambientes com pegada ecológica sustentável.

 

É óbvia a responsabilidade em arrumar espaço para o crescimento onde o crescimento realmente importa principalmente nas nações mais pobres, que precisam começar a crescer. Enquanto isso, países ricos, principalmente os escandinavos, optam, e devem mesmo optar, por prosperar sem crescer. No Brasil parece certo que é tempo de crescer qualitativavemente. E também é evidente que jamais irá se atingir índices universais de qualidade de vida, a não ser que os seres humanos sejam capazes de redefinir um significativo senso de prosperidade, que tem mais sentido e é menos materialista que o modelo baseado no crescimento. Enfim, a gestão eficiente e equilibrada dessa matriz de prosperidade geoeconômica dará o tom da cor do futuro.  Esse pensamento não se relaciona com a prevenção do desenvolvimento, nem com o fim do capitalismo ou a tentativa de mudar a natureza humana.

 

Pretende-se apenas dar alguns simples passos rumo a uma economia centrada no bem estar humano. O crescimento é essencial para o desenvolvimento das economias. A idéia de que é possível tirar dois bilhões de pessoas no planeta da mais absoluta pobreza sem crescimento é claramente improvável. Também não significa que cada país pode continuar crescendo sem limites. O crescimento é estruturalmente importante, porque uma economia em crescimento é estável, enquanto uma economia que para de crescer corre o risco de entrar em colapso.

 

A fórmula dessa nova economia ainda não foi totalmente desenvolvida, mas o importante é que já se iniciou um processo de construção de novas macroeconomias sustentáveis, baseadas não no crescimento ilimitado, mas sim na estabilidade, no equilíbrio e principalmente na prosperidade. Um grande ano novo todos os dias, a nós todos!